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O amor Intempestivo de Obá




O que você faria para conquistar o amor da sua vida? Do que seria capaz?

Obá foi capaz de cortar a própria orelha.


- Que coragem, Dona Obá!


Conta a lenda que certo dia, Xangô caminhava alegremente, quando percebeu ao longe um aglomerado de mulheres, realizando uma cerimônia sob as ordens da energética Obá. Curiosamente, Xangô se aproximou da cena, para observar à espreita. Logo, se encantou com a rara beleza de Obá, que mesmo não sendo tão jovem era a mais bela mulher que ele já vira.

Xangô foi notado. As mulheres o cercaram e levaram ele à presença do orixá.

- Xangô, cometestes um erro muito grave ao violar esse culto sagrado. E o preço a pagar será a sua morte! – disse Obá imperativamente. Mas, já totalmente envolvida pela beleza inigualável do intruso, usou de sua supremacia no culto para ditar uma nova regra. – Todo homem, que violar o culto, se for do agrado, da senhora do culto, deverá unir-se a ela como marido ou aceitar a pena de morte.

- Não quero morrer, minha senhora. Aceito unir-me a ti. – disse Xangô, sem pensar duas vezes. Melhor não poderia ser, escaparia da sentença de morte e ainda se uniria a grande deusa, por quem havia se apaixonado.

O casamento foi um grande acontecimento em Elecô, sendo o início de uma grande paixão.

A deusa guerreira e justiceira, que pune os homens que maltratam mulheres, descobriu um sentimento novo por um homem que ia muito além do ódio. A rainha do sagrado feminino, aprendeu a amar e ser amada.

Tempos depois nasce dessa paixão uma linda menina chamada Opará, bela, justiceira e feroz como os pais. E, foi ela quem prosseguiu com o culto de Elecô.


Obá foi morar no reino de Xangô e dividiu essa convivência com mais duas grandes rainhas; Iansã, senhora dos raios e Oxum, mãe do ouro.

Oxum era uma mulher envolvente e muito carinhosa, sendo por isso a esposa predileta do rei, e tinha um grande dom para a cozinha.

Imediatamente, uma rivalidade se estabeleceu entre Obá e Oxum pelo amor de Xangô.

Obá sempre procurava roubar o segredo das receitas que Oxum preparava para o marido. Oxum que não era nada boba, resolveu se aproveitar das investidas da outra para pregar-lhe uma peça e afastá-la do marido incomum.

- Obá, minha linda, venha que vou ensinar-te o prato predileto de Xangô. –

Ao chegar na cozinha, a rainha guerreira encontrou Oxum com um lindo lenço amarrado à cabeça, escondendo as orelhas.

- O segredo desta sopa são minhas deliciosas orelhas, que sirvo com muito amor ao meu rei. – disse Oxum para convencer a rival.

Quando Xangô chegou, tomou a sopa se deliciando.

Sem pensar duas vezes, Obá quis repetir a receita, cortando sua orelha e temperando a sopa.

Quando Xangô tomou a sopa, cuspiu fora o líquido com a orelha:

- O que é isto, mulher? – disse com cara de nojo – O que colocaste nessa sopa?

Obá explicou-lhe que Oxum havia ensinado a receita, ao que a outra, sorrateiramente retira o lenço, mostrando que suas orelhas estavam intactas.

- Meu amado Rei, não sei o que ela diz, eram cogumelos suculentos que coloquei em sua sopa. – disse Oxum, sorrateiramente.

Furiosamente, Obá partiu para cima de Oxum, travando uma luta. Xangô enraivecido trovejou sua fúria!

Apavoradas, Oxum e Obá, fugiram para longe e transformaram-se em rios e, até hoje, as águas destes rios são tumultuadas e agitadas no lugar de sua confluência, em lembrança da briga que opôs Oxum e Obá pelo amor de Xangô.


Obá é um orixá feminino originado do Rio Oba ou Níger, muito conhecida nos terreiros de candomblé, como a orixá de uma orelha só, que se manifesta nos terreiros de candomblé, cobrindo o defeito com a mão.

Seu domínio são as águas revoltas dos rios, as pororocas, às águas fortes e lugar das quedas. Junto a Nanã, controla o barro, a lama, a água parada, lodo e enchentes, o que lhe confere a regência sobre a ancestralidade.

De personalidade energética, temida e forte, ela representa o aspecto masculino (animus) nas mulheres no que tange ao aspecto físico. Transforma os alimentos crus em cozidos, possui a qualidade da temperança.

Uma exímia guerreira, venceu Oxalá, Oiá, Oxumarê, Exu e Orumilá na luta e é a senhora da ancestralidade feminina.

A Deusa foi a fundadora de uma sociedade restrita, onde apenas mulheres podiam participar dos rituais, que cultuava a ancestralidade feminina individual, onde nenhum homem podia entrar.


Com essa personalidade forte e conhecedora dos mistérios do sagrado feminino, por que a deusa tiraria a orelha por um homem?

Foi um ato de sacrifício ou apenas foi ludibriada por Oxum?

Oxum só conseguiu enganar Obá, porque esta não entendia das artimanhas do amor, da rivalidade feminina e das trapaças do coração. Obá chega a ser ingênua no assunto.

Era exímia na guerra, mas leiga na arte da conquista.

“Como as mulheres podem ser rivais e tão traiçoeiras com outras mulheres, se todas são irmãs?” – pensava Obá.

E assim, ficou conhecida como o orixá do “ciúme” entre os casais, mesmo que essa não seja a definição mais correta e justa de sua personalidade.


Obá desconhece as artimanhas sentimentais, a frivolidade, a disputa e, principalmente, a rivalidade que existe entre as mulheres.

Ser forte, determinada, engajada e empoderada, não são características que combinem com romance e sexualidade, são aspectos conflitantes do feminino. Ser combativa para ela é natural, amar é complicado. Reivindicar seu espaço, direitos e enfrentar qualquer homem é seu papel, mas apaixonar-se não.

Estaria aí o motivo de mulheres independentes materialmente, de vida estável, cair em armadilhas como golpes e estelionatos? Essa personalidade impetuosa e consciente de seu poder, as tornam presas fáceis para relacionamentos abusivos?

O amor intempestivo de Obá é o arquétipo feminino de uma guerreira destemida, mas ressentida. A mulher-Obá deve questionar a si mesma sobre o que é necessário para equilibrar seu feminino sem a dependência do outro, para que sua entrega amorosa seja de forma consciente e mais tranquila, libertando-se da paixão cega e irracional.


Será que Obá contou essa história a milênios atrás, preparando suas filhas para a liberdade plena e verdadeira?


O amor da lenda de Obá é desmedido porque não possui conhecimento profundo da razão e emoção. Viver o anima, combatendo seu animus interior, faz com que o amor seja incompleto.


A mulher moderna tem mais de Obá do que imagina. Uma certa inocência é o preço a pagar por seu espírito de luta.

Oxum só conseguiu enganar Obá, por causa de seu total desconhecimento do amor-romântico, o que sobra em Oxum. Mulheres desse arquétipo tem muito a aprender com a deusa, para entendimento da completude de sua alma que é tanto mulher como homem.


Atributos da Deusa:

Dia da semana – quarta-feira

Cores – marrom raiado, vermelho e amarelo

Símbolos – ofange(espada), escudo de cobre e ofá (arco e flecha)

Elementos – fogo e águas revoltas

Domínio – amor e sucesso profissional

Saudação – Obà Xiré!

Comida – acarajé de formato único, aberém, feijão fradinho, amalá (caruru de quiabos)


























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